25.8.14

O que significa ser psicoterapeuta junguiano?!




Sou psicólogo clínico de orientação analítica-junguiana. O que isso quer dizer?

Bom para começar, que eu fui escolhido (sim, isso mesmo, aprendi que ninguém escolhe uma teoria, é ela que nos escolhe...) para utilizar o pensamento junguiano para compreender a mim mesmo, ao homem, ao mundo, a vida, e assim, trabalhar como psicoterapeuta.

Mas o que quer dizer junguiano?! E por que um psicoterapeuta precisa disso?!

Junguiano, para quem não sabe, é uma palavra que provém do sobrenome do médico psiquiatra e psicólogo suíço Carl Gustav Jung. A propósito, caso você nunca tenha ouvido falar nesse nome, lê-se “iung” com som de i no início e não com som de jota, ok?; da mesma forma, junguiana(o) se lê “iunguiana(o)”.

E quem foi Jung?! Bom, acompanhe aqui uma breve biografia dele:

Carl Gustav Jung nasceu em 26 de julho de 1875 na cidade suíça de Kesswill. Estudou medicina na Universidade da Basileia de 1895 a 1900. Fez residência no Burghölzli, hospital psiquiátrico de Zurique, ao final da qual, em 1902, doutorou-se defendendo a tese intitulada “Sobre a psicologia e a patologia dos fenômenos ocultos”. Em 1903, casou-se com Emma Rauschenbach, com quem teve cinco filhos. 

Após estudar as obras de Freud (que se lê “Fróid”, caso este nome também lhe seja novo!), encontrou-se com ele em 1907, e deste encontro floresceu uma amizade e parceria entre eles que deu origem a um intenso período de colaboração e produção a ambos. Jung confessa, porém, em seus escritos posteriores, que já nesta época não concordava inteiramente com as ideias de Freud sobre algumas coisas, mas principalmente sobre a da libido, que para Freud era expressão da psicossexualidade humana e para Jung, expressão da energia vital humana. Mas, como Jung sentia-se frente a um mestre, ele o respeitava, bem como às suas colocações e ideias.

Porém, em 1912, quando Jung escrevia o texto Metamorfoses e Símbolos da Libido, que está inserido em seu livro Símbolos da Transformação, esta principal discordância - da definição de libido - entre outras não mais pode ser contida e sua publicação culminou no rompimento da amizade e do período de colaboração entre eles.

Jung diz em suas obras escritas anos mais tardes que já sabia intuitivamente que a discordância custaria a ele o bem querer de Freud, e que se enxergou num conflito: "Deveria calar meu modo de pensar ou arriscar nossa amizade?", ele se questionava. Ele ruminou essa dificuldade por dois meses (D-O-I-S MESES! Vê como nem tudo são flores na vida de um gênio? Quiçá nós, meros mortais!) e se sentiu paralisado para prosseguir com a escrita final do trabalho por este período. Agora, leiam como ele se expressou sobre o rompimento com Freud, depois que ele realmente aconteceu:

"Depois da ruptura com Freud começara para mim um período de incerteza e mesmo de desorientação. Eu me sentia numa total incerteza, pois não encontrara minha própria posição.Vivia numa tensão extrema e muitas vezes tinha a impressão de que blocos gigantescos desabavam sobre mim. 'Resistir' a tudo isto foi uma questão de força brutal. Outros nisso sucumbiram. Mas havia em mim uma força demoníaca e desde o início tencionara encontrar o sentido daquilo que vivera nessas fantasias. O sentimento de obedecer a uma vontade superior era inquebrantável e sua presença constante em mim ajudou-me a resistir aos assaltos do inconsciente, orientando-me no cumprimento da tarefa"

Eclodiu a Primeira Guerra Mundial e somente ao final dela Jung começou a sair da escuridão. Isso já por volta de 1920 - façam as contas, o rompimento com Freud foi em 1912, foram oito anos para cicatrizar uma ferida que ele sabia que precisava sofrer... 

Diz ele, "Tornou-se claro para mim que a meta do desenvolvimento psíquico é o si-mesmo.A aproximação em direção a este não é linear, mas circular... Compreender isso, deu-me firmeza e progressivamente, restabeleceu-se a paz interior. Atingira a mandala - expressão do Si-mesmo - a descoberta última a que poderia chegar. Alguém poderia ir além, eu não."

Foi esta trajetória, que eu resumi muito simplificadamente aqui, e principalmente os anos de escuridão após o rompimento com Freud, que deram a Jung o conteúdo necessário para elaborar sua teoria, baseada em estudos, pesquisas e viagens, cujo método é construir um entendimento do ser humano e de sua alma, seus anseios, medos, desejos e sonhos, que o conduziu uma carreira brilhante.

E que teoria Jung elaborou? Bom, Jung acreditava que somos seres provindos do Inconsciente Coletivo para realizarmos uma missão, que ele chamou de Processo de Individuação. Não vou me alongar aqui, pois isso será assunto de posts futuros, mas ele queria dizer com isso que somos verdadeiramente seres dotados de uma mente (ou psique) inconsciente que é real e que nossa consciência é apenas um fenômeno temporário. "Há em nós um para quê", ele diria. Estamos aqui para realizar algo. Descobrir o quê, aceitar, driblar dificuldades e adaptar-se e enfim realizá-lo é a nossa tarefa. E para uma vida inteira.

Todo mundo consegue, então, se individuar? Não. É preciso uma íntima e intensa conexão com a vida interior (sabe aquela voz que fala com você lá no fundo da sua mente? então...) para conseguir "pistas", "dicas" deste plano e poder até mesmo "influenciá-lo". Quando isso é realizado, o homem goza do fenômeno da completude, fica banhado na sabedoria universal do Inconsciente e integra sua personalidade, vivendo a vida que lhe foi destinada.

É bonito dizer isso, não é? É poético. Mas não confunda individuação com imagens idílicas de felicidade. Não é isso. Pelo contrário, individuar-se é deixar que o plano se realize mesmo sob o custo de ter nossos temores mais profundos trazidos à tona, à luz. É ser capaz de aguentar o sofrimento de ser quem se tem que ser e assim ser capaz de ser feliz. Não é cruzada a favor do sofrimento humano, embora isto possa soar apologia a ele. Mas antes, compreender que se ele for inevitável, que traga da escuridão a semente da luz.

Finalmente, para quê mesmo um psicoterapeuta precisa de uma teoria, ou um pensamento que lhe oriente?

Acredite você ou não, o ser humano é indefinível e/ou improvável (no sentido de tirar a prova!). Ele é apenas aleatoriamente "aproximável". Como somos seres almados, e como a Alma é etérea demais, quando nos aproximamos dela, acabamos tentando enjaulá-la para dissecá-la e explicá-la (este é o lado B da Ciência!). Por ser extremamente sábia e inflexível a dominações exploratórias descuidadas, Ela se modifica, foge, quase que automaticamente e revida, na maioria das vezes, com bastante força. Por isso, há várias e várias teorias que partem de ideias, pressupostos, conceitos sobre o homem e sua mente (ou Alma), todas tentando chegar o mais próximo possível da verdade humana.

Assim, para mim, Murilo, a que chega mais perto da Alma e a que a respeita e consegue mais é a Psicologia Analítica (que você também pode encontrar definida como Psicologia Junguiana, ou ainda Psicologia Profunda) de Carl Gustav Jung. É dessa fonte que bebo e me abasteço para suportar com alegria o sofrimento inevitável (ou angústia) de ser e estar humano, de estar em busca de compreender uma missão, de aceitá-la, de me adaptar a ela tantas vezes forem necessárias para ser, no fim de tudo, o que Jung sempre tão somente almejou enquanto sua Alma esteve sob a forma humana: "...fazer o que Deus queria e não o que eu queria", mais uma vez, em suas próprias palavras.

Seja você também o que Deus quiser.



P.S.  Se você quiser mais detalhes da biografia de Jung, visite este endereço e divirta-se: http://pt.wikipedia.org/wiki/Carl_Gustav_Jung




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