28.8.14

Do um que somos e do todo de onde viemos


O vídeo Threads - we are all connected (Linha - estamos todos conectados) é da WWF (World Wildlife Fund), organização que protege a vida natural e o meio-ambiente no planeta, e que tem, inclusive, escritórios no Brasil. Trombei com ele num dia, quase sem querer, passeando pelo feed de notícias do Facebook, e na hora pensei: Perfeito! Resolvi publicar porque ilustra bem o que quero dizer com "Somos todos almados".

Ele mostra como estamos absolutamente conectados a um todo, que provemos do mesmo lugar e que, no fundo, somos todos feitos do mesmo "material". Gostei porque ilustra, na minha opinião, como a Alma está em todos os seres e objetos continuamente, bem como sugerido: um novelo de linha que vai se desenrolando e formando várias coisas, mas que no fundo, no fundo, é linha e ponto.

Vale a pena assistí-lo várias vezes.



25.8.14

O que significa ser psicoterapeuta junguiano?!




Sou psicólogo clínico de orientação analítica-junguiana. O que isso quer dizer?

Bom para começar, que eu fui escolhido (sim, isso mesmo, aprendi que ninguém escolhe uma teoria, é ela que nos escolhe...) para utilizar o pensamento junguiano para compreender a mim mesmo, ao homem, ao mundo, a vida, e assim, trabalhar como psicoterapeuta.

Mas o que quer dizer junguiano?! E por que um psicoterapeuta precisa disso?!

Junguiano, para quem não sabe, é uma palavra que provém do sobrenome do médico psiquiatra e psicólogo suíço Carl Gustav Jung. A propósito, caso você nunca tenha ouvido falar nesse nome, lê-se “iung” com som de i no início e não com som de jota, ok?; da mesma forma, junguiana(o) se lê “iunguiana(o)”.

E quem foi Jung?! Bom, acompanhe aqui uma breve biografia dele:

Carl Gustav Jung nasceu em 26 de julho de 1875 na cidade suíça de Kesswill. Estudou medicina na Universidade da Basileia de 1895 a 1900. Fez residência no Burghölzli, hospital psiquiátrico de Zurique, ao final da qual, em 1902, doutorou-se defendendo a tese intitulada “Sobre a psicologia e a patologia dos fenômenos ocultos”. Em 1903, casou-se com Emma Rauschenbach, com quem teve cinco filhos. 

Após estudar as obras de Freud (que se lê “Fróid”, caso este nome também lhe seja novo!), encontrou-se com ele em 1907, e deste encontro floresceu uma amizade e parceria entre eles que deu origem a um intenso período de colaboração e produção a ambos. Jung confessa, porém, em seus escritos posteriores, que já nesta época não concordava inteiramente com as ideias de Freud sobre algumas coisas, mas principalmente sobre a da libido, que para Freud era expressão da psicossexualidade humana e para Jung, expressão da energia vital humana. Mas, como Jung sentia-se frente a um mestre, ele o respeitava, bem como às suas colocações e ideias.

Porém, em 1912, quando Jung escrevia o texto Metamorfoses e Símbolos da Libido, que está inserido em seu livro Símbolos da Transformação, esta principal discordância - da definição de libido - entre outras não mais pode ser contida e sua publicação culminou no rompimento da amizade e do período de colaboração entre eles.

Jung diz em suas obras escritas anos mais tardes que já sabia intuitivamente que a discordância custaria a ele o bem querer de Freud, e que se enxergou num conflito: "Deveria calar meu modo de pensar ou arriscar nossa amizade?", ele se questionava. Ele ruminou essa dificuldade por dois meses (D-O-I-S MESES! Vê como nem tudo são flores na vida de um gênio? Quiçá nós, meros mortais!) e se sentiu paralisado para prosseguir com a escrita final do trabalho por este período. Agora, leiam como ele se expressou sobre o rompimento com Freud, depois que ele realmente aconteceu:

"Depois da ruptura com Freud começara para mim um período de incerteza e mesmo de desorientação. Eu me sentia numa total incerteza, pois não encontrara minha própria posição.Vivia numa tensão extrema e muitas vezes tinha a impressão de que blocos gigantescos desabavam sobre mim. 'Resistir' a tudo isto foi uma questão de força brutal. Outros nisso sucumbiram. Mas havia em mim uma força demoníaca e desde o início tencionara encontrar o sentido daquilo que vivera nessas fantasias. O sentimento de obedecer a uma vontade superior era inquebrantável e sua presença constante em mim ajudou-me a resistir aos assaltos do inconsciente, orientando-me no cumprimento da tarefa"

Eclodiu a Primeira Guerra Mundial e somente ao final dela Jung começou a sair da escuridão. Isso já por volta de 1920 - façam as contas, o rompimento com Freud foi em 1912, foram oito anos para cicatrizar uma ferida que ele sabia que precisava sofrer... 

Diz ele, "Tornou-se claro para mim que a meta do desenvolvimento psíquico é o si-mesmo.A aproximação em direção a este não é linear, mas circular... Compreender isso, deu-me firmeza e progressivamente, restabeleceu-se a paz interior. Atingira a mandala - expressão do Si-mesmo - a descoberta última a que poderia chegar. Alguém poderia ir além, eu não."

Foi esta trajetória, que eu resumi muito simplificadamente aqui, e principalmente os anos de escuridão após o rompimento com Freud, que deram a Jung o conteúdo necessário para elaborar sua teoria, baseada em estudos, pesquisas e viagens, cujo método é construir um entendimento do ser humano e de sua alma, seus anseios, medos, desejos e sonhos, que o conduziu uma carreira brilhante.

E que teoria Jung elaborou? Bom, Jung acreditava que somos seres provindos do Inconsciente Coletivo para realizarmos uma missão, que ele chamou de Processo de Individuação. Não vou me alongar aqui, pois isso será assunto de posts futuros, mas ele queria dizer com isso que somos verdadeiramente seres dotados de uma mente (ou psique) inconsciente que é real e que nossa consciência é apenas um fenômeno temporário. "Há em nós um para quê", ele diria. Estamos aqui para realizar algo. Descobrir o quê, aceitar, driblar dificuldades e adaptar-se e enfim realizá-lo é a nossa tarefa. E para uma vida inteira.

Todo mundo consegue, então, se individuar? Não. É preciso uma íntima e intensa conexão com a vida interior (sabe aquela voz que fala com você lá no fundo da sua mente? então...) para conseguir "pistas", "dicas" deste plano e poder até mesmo "influenciá-lo". Quando isso é realizado, o homem goza do fenômeno da completude, fica banhado na sabedoria universal do Inconsciente e integra sua personalidade, vivendo a vida que lhe foi destinada.

É bonito dizer isso, não é? É poético. Mas não confunda individuação com imagens idílicas de felicidade. Não é isso. Pelo contrário, individuar-se é deixar que o plano se realize mesmo sob o custo de ter nossos temores mais profundos trazidos à tona, à luz. É ser capaz de aguentar o sofrimento de ser quem se tem que ser e assim ser capaz de ser feliz. Não é cruzada a favor do sofrimento humano, embora isto possa soar apologia a ele. Mas antes, compreender que se ele for inevitável, que traga da escuridão a semente da luz.

Finalmente, para quê mesmo um psicoterapeuta precisa de uma teoria, ou um pensamento que lhe oriente?

Acredite você ou não, o ser humano é indefinível e/ou improvável (no sentido de tirar a prova!). Ele é apenas aleatoriamente "aproximável". Como somos seres almados, e como a Alma é etérea demais, quando nos aproximamos dela, acabamos tentando enjaulá-la para dissecá-la e explicá-la (este é o lado B da Ciência!). Por ser extremamente sábia e inflexível a dominações exploratórias descuidadas, Ela se modifica, foge, quase que automaticamente e revida, na maioria das vezes, com bastante força. Por isso, há várias e várias teorias que partem de ideias, pressupostos, conceitos sobre o homem e sua mente (ou Alma), todas tentando chegar o mais próximo possível da verdade humana.

Assim, para mim, Murilo, a que chega mais perto da Alma e a que a respeita e consegue mais é a Psicologia Analítica (que você também pode encontrar definida como Psicologia Junguiana, ou ainda Psicologia Profunda) de Carl Gustav Jung. É dessa fonte que bebo e me abasteço para suportar com alegria o sofrimento inevitável (ou angústia) de ser e estar humano, de estar em busca de compreender uma missão, de aceitá-la, de me adaptar a ela tantas vezes forem necessárias para ser, no fim de tudo, o que Jung sempre tão somente almejou enquanto sua Alma esteve sob a forma humana: "...fazer o que Deus queria e não o que eu queria", mais uma vez, em suas próprias palavras.

Seja você também o que Deus quiser.



P.S.  Se você quiser mais detalhes da biografia de Jung, visite este endereço e divirta-se: http://pt.wikipedia.org/wiki/Carl_Gustav_Jung




20.8.14

Somos todos almados


Preciso explicar o porquê de Alma feita a mão.

Não, não é igreja, seita, segmento, pastoral de nenhuma instituição religiosa. Nada contra! O Alma feita a mão é pura e simplesmente uma idealização minha, Murilo, psicólogo e psicoterapeuta, que acredita na importância da subjetividade de todas as coisas. Isso mesmo, de TODAS as coisas: pessoas, animais, plantas, chão, céu, lixo, dinheiro, livros, comida, prédios, sentimentos, e por aí vai... Sim, SOMOS TODOS ALMADOS. O que isso significa? Que para cada uma destas coisas, inclusive nós, há um propósito e uma intenção (ou propósitos e intenções), basta descobrí-los. Belo, não?! Mas como fazer?! Sendo e deixando ser. Estando e deixando estar. Tecendo e deixando tecer. Ou seja, fazendo o que devemos fazer e deixando que façam o que deve ser feito.

Alma porque não somos meros fatos em buscas de explicações. Isso é fácil: você é assim por que herdou isso de seus pais; você reage assim porque isso lhe foi ensinado desta maneira e você gostou... Não! Alma porque estamos experimentando algo enquanto seres humanos que requer compreensão, que clama por: “para quê isso?”.

Feita a mão porque as mãos simbolizam, para nós seres humanos, a ação que nos diferencia do restante dos seres e coisas almadas deste universo. Elas (as mãos!) sintetizam-nos, capacitando-nos a conter e a segurar, a diferenciar tudo o que tocamos e que escolhemos (mesmo sem saber!) modelar. Mesmo quando indicam uma afirmação de poder – a mão da justiça, a mão dada em casamento, por exemplo – são elas, as mãos, que diferenciam aquele a que representam. Elas nos servem como arma e também como utensílio. Realizamos com elas, transformamos com elas.

A Alma se encontra neste vão:  no momento que você ouve lá dentro de si alguma sugestão, alguma ideia, alguma reclamação, algum elogio, enfim, alguma coisa... Pronto, conseguiu isto? Você está RICO, MILIONÁRIO, mas não de dinheiro (isso você pode conseguir de outro jeito!), mas de material valioso em estado bruto, tipo diamante, sabe? Agora, você pode lapidá-lo para ficar irresistivelmente diferenciado. E depois, deixe o tempo ser o tempo e se encarregar da função dele para que esta beleza toda possa ser remetida a alguém, trocada por alguma outra, transmitida para outra geração, compartilhada com quem lhe suscita alegrias e tristezas, até que chegue o momento de devolvê-la a quem compreendeu  (bem antes de você) que você deveria criá-la e que agora sua Alma já é um algo mais...

Minha intenção era explicar o Alma feita a mão, mas acabei mesmo foi dividindo minha compreensão acerca dele. Não leve a mal. Temos a tendência de (ou melhor, aprendemos a) querer explicar as coisas, sejam elas nossas atitudes, nossas falhas, o mundo ao nosso redor e o mais conflituoso de todos: o Outro, antes mesmo de compreendê-lo.

A propósito, o embate histórico entre o explicar e o compreender a que me refiro já foi estudado por um psicólogo alemão (que também era filósofo, historiador, sociólogo e pedagogo!) chamado Wilhem Dilthey. Ele afirmou que à medida que fomos nos engajando no desenvolvimento da ciência, nossa capacidade de imaginação foi se retraindo em nome da nossa capacidade racional científica, e aí, não demorou para que passássemos a priorizar a construção do conhecimento através da explicação ao invés da compreensão. Deixamos a Alma para segundo plano, digamos. Acredita nisso?!

Por essa razão, logo aceito e me resigno (fico feliz, na verdade!) que a minha intenção de explicar meu blog tenha sido ofuscada pela partilha da minha compreensão dele, e espero que você compreenda! (valendo o trocadilho, neste caso!). Isto simboliza, para mim, que mesmo a minha mais boa intenção racional ainda não é capaz de aniquilar por completo a "fala" da minh’Alma.

16.8.14

O início (ou antes de tudo se complicar!)


Em diversas ocasiões, em tantas dedicatórias em livros presenteados à amigos que não sei quantificar,  reproduzi,  de um jeito ou de outro,  o que disse Jung em suas "Memórias, Sonhos e Reflexões", de que a história de uma vida começa num dado lugar,  num tempo qualquer,  e que já então tudo é muito complicado. Sinto que é esta a história desse blog.

Nos meus planos, ele existe desde meados de 2012, a partir da ideia de reunir reflexões pessoais, elaborações do meu trabalho com pessoas, minhas leituras por puro prazer ou por necessidade profissional, meus pontos de vista acerca da vida, do mundo, do homem e de Deus num só lugar, e aí, pronto: complicou...

E só agora, dois anos mais tarde, consigo dar o pontapé inicial nele, e planejo que seja meu grande projeto pessoal e profissional, meu "cartão de visitas", digamos assim, do que a Alma está fazendo de mim e como eu me entrego à Ela.