Preciso explicar o porquê de Alma feita a mão.
Não, não é igreja, seita, segmento, pastoral de nenhuma
instituição religiosa. Nada contra! O Alma feita a mão é pura e simplesmente
uma idealização minha, Murilo, psicólogo e psicoterapeuta, que acredita na
importância da subjetividade de todas as coisas. Isso mesmo, de TODAS as coisas:
pessoas, animais, plantas, chão, céu, lixo, dinheiro, livros, comida, prédios, sentimentos,
e por aí vai... Sim, SOMOS TODOS ALMADOS. O que isso significa? Que
para cada uma destas coisas, inclusive nós, há um propósito e uma intenção (ou propósitos e intenções), basta descobrí-los. Belo, não?! Mas como fazer?! Sendo e deixando ser. Estando e deixando
estar. Tecendo e deixando tecer. Ou seja, fazendo o que devemos fazer e
deixando que façam o que deve ser feito.
Alma porque não somos meros fatos em buscas de explicações. Isso é fácil: você é assim por que herdou isso de seus pais; você reage
assim porque isso lhe foi ensinado desta maneira e você gostou... Não! Alma porque
estamos experimentando algo enquanto seres humanos que requer compreensão, que
clama por: “para quê isso?”.
Feita a mão porque as mãos simbolizam, para nós seres humanos,
a ação que nos diferencia do restante dos seres e coisas almadas deste
universo. Elas (as mãos!) sintetizam-nos, capacitando-nos a conter e a segurar,
a diferenciar tudo o que tocamos e que escolhemos (mesmo sem saber!) modelar.
Mesmo quando indicam uma afirmação de poder – a mão da justiça, a mão dada em
casamento, por exemplo – são elas, as mãos, que diferenciam aquele a que
representam. Elas nos servem como arma e também como utensílio. Realizamos com
elas, transformamos com elas.
A Alma se encontra neste vão: no momento que você ouve lá dentro de si
alguma sugestão, alguma ideia, alguma reclamação, algum elogio, enfim, alguma
coisa... Pronto, conseguiu isto? Você está RICO, MILIONÁRIO, mas não de
dinheiro (isso você pode conseguir de outro jeito!), mas de material valioso em
estado bruto, tipo diamante, sabe? Agora, você pode lapidá-lo para ficar
irresistivelmente diferenciado. E depois, deixe o tempo ser o tempo e se
encarregar da função dele para que esta beleza toda possa ser remetida a
alguém, trocada por alguma outra, transmitida para outra geração, compartilhada
com quem lhe suscita alegrias e tristezas, até que chegue o momento de devolvê-la
a quem compreendeu (bem antes de você) que
você deveria criá-la e que agora sua Alma já é um algo mais...
Minha intenção era explicar o Alma feita a mão, mas acabei mesmo
foi dividindo minha compreensão acerca dele. Não leve a mal. Temos a tendência de (ou melhor, aprendemos a) querer explicar as coisas, sejam elas nossas
atitudes, nossas falhas, o mundo ao nosso redor e o mais conflituoso de todos:
o Outro, antes mesmo de compreendê-lo.
A propósito, o embate histórico entre o explicar e o
compreender a que me refiro já foi estudado por um psicólogo alemão (que
também era filósofo, historiador, sociólogo e pedagogo!) chamado Wilhem
Dilthey. Ele afirmou que à medida que fomos nos engajando no desenvolvimento da
ciência, nossa capacidade de imaginação foi se retraindo em nome da nossa
capacidade racional científica, e aí, não demorou para que passássemos a
priorizar a construção do conhecimento através da explicação ao invés da
compreensão. Deixamos a Alma para segundo plano, digamos. Acredita nisso?!
Por essa razão, logo aceito e me resigno (fico feliz, na
verdade!) que a minha intenção de explicar meu blog tenha sido ofuscada pela partilha da
minha compreensão dele, e espero que você compreenda! (valendo o trocadilho, neste caso!). Isto simboliza, para mim, que mesmo a minha mais boa intenção racional ainda não é capaz de aniquilar por completo a "fala" da minh’Alma.