20.8.14

Somos todos almados


Preciso explicar o porquê de Alma feita a mão.

Não, não é igreja, seita, segmento, pastoral de nenhuma instituição religiosa. Nada contra! O Alma feita a mão é pura e simplesmente uma idealização minha, Murilo, psicólogo e psicoterapeuta, que acredita na importância da subjetividade de todas as coisas. Isso mesmo, de TODAS as coisas: pessoas, animais, plantas, chão, céu, lixo, dinheiro, livros, comida, prédios, sentimentos, e por aí vai... Sim, SOMOS TODOS ALMADOS. O que isso significa? Que para cada uma destas coisas, inclusive nós, há um propósito e uma intenção (ou propósitos e intenções), basta descobrí-los. Belo, não?! Mas como fazer?! Sendo e deixando ser. Estando e deixando estar. Tecendo e deixando tecer. Ou seja, fazendo o que devemos fazer e deixando que façam o que deve ser feito.

Alma porque não somos meros fatos em buscas de explicações. Isso é fácil: você é assim por que herdou isso de seus pais; você reage assim porque isso lhe foi ensinado desta maneira e você gostou... Não! Alma porque estamos experimentando algo enquanto seres humanos que requer compreensão, que clama por: “para quê isso?”.

Feita a mão porque as mãos simbolizam, para nós seres humanos, a ação que nos diferencia do restante dos seres e coisas almadas deste universo. Elas (as mãos!) sintetizam-nos, capacitando-nos a conter e a segurar, a diferenciar tudo o que tocamos e que escolhemos (mesmo sem saber!) modelar. Mesmo quando indicam uma afirmação de poder – a mão da justiça, a mão dada em casamento, por exemplo – são elas, as mãos, que diferenciam aquele a que representam. Elas nos servem como arma e também como utensílio. Realizamos com elas, transformamos com elas.

A Alma se encontra neste vão:  no momento que você ouve lá dentro de si alguma sugestão, alguma ideia, alguma reclamação, algum elogio, enfim, alguma coisa... Pronto, conseguiu isto? Você está RICO, MILIONÁRIO, mas não de dinheiro (isso você pode conseguir de outro jeito!), mas de material valioso em estado bruto, tipo diamante, sabe? Agora, você pode lapidá-lo para ficar irresistivelmente diferenciado. E depois, deixe o tempo ser o tempo e se encarregar da função dele para que esta beleza toda possa ser remetida a alguém, trocada por alguma outra, transmitida para outra geração, compartilhada com quem lhe suscita alegrias e tristezas, até que chegue o momento de devolvê-la a quem compreendeu  (bem antes de você) que você deveria criá-la e que agora sua Alma já é um algo mais...

Minha intenção era explicar o Alma feita a mão, mas acabei mesmo foi dividindo minha compreensão acerca dele. Não leve a mal. Temos a tendência de (ou melhor, aprendemos a) querer explicar as coisas, sejam elas nossas atitudes, nossas falhas, o mundo ao nosso redor e o mais conflituoso de todos: o Outro, antes mesmo de compreendê-lo.

A propósito, o embate histórico entre o explicar e o compreender a que me refiro já foi estudado por um psicólogo alemão (que também era filósofo, historiador, sociólogo e pedagogo!) chamado Wilhem Dilthey. Ele afirmou que à medida que fomos nos engajando no desenvolvimento da ciência, nossa capacidade de imaginação foi se retraindo em nome da nossa capacidade racional científica, e aí, não demorou para que passássemos a priorizar a construção do conhecimento através da explicação ao invés da compreensão. Deixamos a Alma para segundo plano, digamos. Acredita nisso?!

Por essa razão, logo aceito e me resigno (fico feliz, na verdade!) que a minha intenção de explicar meu blog tenha sido ofuscada pela partilha da minha compreensão dele, e espero que você compreenda! (valendo o trocadilho, neste caso!). Isto simboliza, para mim, que mesmo a minha mais boa intenção racional ainda não é capaz de aniquilar por completo a "fala" da minh’Alma.

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